21.12.11

Felipe Schmidt


Não lembrei de comprar minha passagem na faculdade hoje. Resolvi ir até o Rita Maria, já que a dor de garganta e a preguiça me fizeram não ir à aula. Como todo bom final de tarde em Florianópolis, as ruas estavam apinhadas de gente, correndo, se esbarrando, falando alto, rindo, xingando... aquela alegria.
Dia do samba, mercado público lotado, e vários hippies vendendo seus trampos perto da rodoviária.
É incrível a quantidade de pessoas que podem ser percebidas de cara amarrada. Sorrisos sinceros estão ficando mais raros. Ou será que eu passei pela rua errada?
Na volta, depois de deixar o samba do mercado público pra trás, me vi pensando no que fazer pra comer quando ouvi um som que me é muito familiar.
Qualquer bom aficcionado (ou aficionado, não sei) por cultura japonesa, como é o meu caso, saberia reconhecer de longe o som de uma flauta de bambu.
Quando chego na Felipe Schmidt, na frente da Casas Bahia, me deparo com um grupo um tanto incomum, pelo menos pra mim, que vou poucas vezes até o centro.
Três ameríndios vestidos a caráter, tocando flautas e uma espécie de apito, usando penas na cabeça, acessórios de contas e varetas de bambu, pintura facial e botas do que me parecia ser couro. A música era linda, carregada de tradição, cantada numa língua que eu não faço idéia de qual seja. O mais novo deles, que tinha penas nas costas também (não consegui ver os outros) dançava à frente do grupo. Lembrava um galo, e acredito que era isso mesmo o que ele desejava representar. Caixas de som propagavam tambores que lembravam trovões. Duas meninas vendiam CD's, andando de um lado pelo outro na frente dos curiosos e sendo ignoradas pelos mesmos. Usavam as típicas saias longas e camisas com babados.
Aí eu me pergunto: O que faz um grupo de chilenos (acho que são chilenos) sair do seu país de origem, sem saber o que vão enfrentar no Brasil, e vir pra cá vender chapéus, lenços e eventualmente trajar suas vestes de tradição indígena em plena cidade grande, para uma platéia de pessoas civilizadamente apressadas ou que não ligam a miníma para nada além de seus próprios problemas?
Gostaria de ter-lhes perguntado o porque de estarem ali, o que significa pra eles apresentarem-se a um público que vê como exóticos a sua música e dança, tão ancestral, tão magnífica. Fazem isso apenas pelo dinheiro? Ou se sentem bem resgatando sua cultura, mostrando aos transeuntes que são mais do que ambulantes estrangeiros? Era irritante ver risinhos zombeteiros na cara das pessoas ao ver o garoto dançando. Muitos passavam por ali e nem sequer olhavam para eles! Como?! Como não percebem que ali estão pessoas que vestem séculos de história, um povo que foi suprimido pelos espanhóis, que tem sua própria cultura, tão rica e extensa quanto qualquer povo. E a música! Como não prestar atenção em uma canção que transmite tanta calma e tanta tradição. Aquelas roupas eram mais que pano com varas de bambu e penas. Eram o sangue daquelas pessoas, em ebulição, trazendo à tona suas raízes, seu espírito.
Gostaria de ter comprado um CD, mas estava sem grana. Teria comprado pela admiração que senti. Teria comprado, mas eles não aceitam cartão...

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