Juliana era estudante de arquitetura, e
morava com Sael, seu amigo, também da arquitetura, e um cara aleatório que foi
colocado na casa pela reitoria. As casas estudantis ficavam em uma grande área
do campus, tinham três quartos e aparência de chalé. Eram destinadas aos
estudantes de renda baixa.
Juliana e Sael eram melhores amigos
desde a infância, onde moravam no mesmo bairro e aprontavam muito. Mesmo com os
hormônios vindo à tona na adolescência, nunca se apaixonaram um pelo outro,
mantendo assim uma amizade duradoura.
Mas Juliana sabia de um segredo de Sael.
Um segredo perigoso.
Ela não sabia o que fazer. Sael simplesmente
chegava como se fosse a coisa mais normal do mundo e dizia: “To indo lá, mais
tarde nos falamos.”
Juliana se sentia mal só de imaginar.
Não conseguia ficar em casa. Saia e ia
para um bar ou lanchonete, ou qualquer lugar com muitas pessoas que pudessem
vê-la, evitando assim que fosse acusada de ser cúmplice de Sael caso ele fosse
pego.
Às vezes sentia que traía a confiança de
Sael agindo assim, mas ele haveria de entender. Um dia ele a chamou para ir com
ele: “Vamos Juli, vai ser legal, você vai ver como é gostoso”. Ela quase se desesperou,
e tentou convencê-lo a não ir, a mudar de vida, avisou-o que já havia pessoas
desconfiando dele, que deveria parar. Ele apenas sorriu e deixou ela para trás.
Um dia, ela estava chegando em casa e
viu o que já esperava que fosse acontecer um dia: centenas de pessoas em volta
da casa, carros de polícia e da tropa de choque. Ela abriu caminho entre as
pessoas e passou por baixo da faixa de contenção enquanto ouvia alguém dizer ao
megafone: “Solte o refém e saia com as mãos para cima, você está cercado!”. Um
policial tentou impedi-la, mas ela se debateu e argumentou que era a única que
Sael daria ouvidos. O chefe da operação viu que não ia ter jeito e deixou ela
entrar.
Sael estava na sala, lambendo os dedos.
Poças de sangue estavam espalhadas pelo chão, assim como marcas de mãos e
sinais de luta.
“Até que enfim Juli, estava te
esperando. Onde esteve? Estou comendo sozinho desde ontem. Sabe o cara do outro
quarto? Ouvi ele dizendo pra alguém no celular que não sabia mais o que era
viver, que ‘tava’ de saco cheio. Daí como a geladeira estava vazia...”
Juliana olhou para o quarto do rapaz. A
porta estava aberta, a cama revirada e não havia ninguém lá dentro. Juliana fez
um esforço gigantesco para não vomitar, mas não conseguiu evitar a tontura. Ela
olhou para Sael e viu aquele brilho louco que ela tinha visto tantas vezes
antes, e o sorriso avermelhado, terrível, sedutor. Em dois dias ele conseguiu
terminar tudo. Ela só não entendeu onde foram parar os ossos.
P.s.: Baseado em um sonho que a minha
amiga Mariana teve comigo.
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