19.1.12

Colega de Casa


Juliana era estudante de arquitetura, e morava com Sael, seu amigo, também da arquitetura, e um cara aleatório que foi colocado na casa pela reitoria. As casas estudantis ficavam em uma grande área do campus, tinham três quartos e aparência de chalé. Eram destinadas aos estudantes de renda baixa.
Juliana e Sael eram melhores amigos desde a infância, onde moravam no mesmo bairro e aprontavam muito. Mesmo com os hormônios vindo à tona na adolescência, nunca se apaixonaram um pelo outro, mantendo assim uma amizade duradoura.
Mas Juliana sabia de um segredo de Sael. Um segredo perigoso.
Ela não sabia o que fazer. Sael simplesmente chegava como se fosse a coisa mais normal do mundo e dizia: “To indo lá, mais tarde nos falamos.”
Juliana se sentia mal só de imaginar.
Não conseguia ficar em casa. Saia e ia para um bar ou lanchonete, ou qualquer lugar com muitas pessoas que pudessem vê-la, evitando assim que fosse acusada de ser cúmplice de Sael caso ele fosse pego.
Às vezes sentia que traía a confiança de Sael agindo assim, mas ele haveria de entender. Um dia ele a chamou para ir com ele: “Vamos Juli, vai ser legal, você vai ver como é gostoso”. Ela quase se desesperou, e tentou convencê-lo a não ir, a mudar de vida, avisou-o que já havia pessoas desconfiando dele, que deveria parar. Ele apenas sorriu e deixou ela para trás.
Um dia, ela estava chegando em casa e viu o que já esperava que fosse acontecer um dia: centenas de pessoas em volta da casa, carros de polícia e da tropa de choque. Ela abriu caminho entre as pessoas e passou por baixo da faixa de contenção enquanto ouvia alguém dizer ao megafone: “Solte o refém e saia com as mãos para cima, você está cercado!”. Um policial tentou impedi-la, mas ela se debateu e argumentou que era a única que Sael daria ouvidos. O chefe da operação viu que não ia ter jeito e deixou ela entrar.
Sael estava na sala, lambendo os dedos. Poças de sangue estavam espalhadas pelo chão, assim como marcas de mãos e sinais de luta.
“Até que enfim Juli, estava te esperando. Onde esteve? Estou comendo sozinho desde ontem. Sabe o cara do outro quarto? Ouvi ele dizendo pra alguém no celular que não sabia mais o que era viver, que ‘tava’ de saco cheio. Daí como a geladeira estava vazia...”
Juliana olhou para o quarto do rapaz. A porta estava aberta, a cama revirada e não havia ninguém lá dentro. Juliana fez um esforço gigantesco para não vomitar, mas não conseguiu evitar a tontura. Ela olhou para Sael e viu aquele brilho louco que ela tinha visto tantas vezes antes, e o sorriso avermelhado, terrível, sedutor. Em dois dias ele conseguiu terminar tudo. Ela só não entendeu onde foram parar os ossos.




P.s.: Baseado em um sonho que a minha amiga Mariana teve comigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário