9.2.12

Conversa em alto mar


(Fifteen men on a dead man's chest!) Pouco antes de resgatar você, tínhamos saído de Goa com um carregamento muito importante. Não é do nosso feitio fazer serviços digamos, ‘honestos’, mas como a coroa portuguesa pagou extremamente bem, aceitamos o trabalho. (Yo ho ho and a bottle of rum!) Tínhamos que levar uma urna em segurança até Macau, na China. Normalmente a marinha deveria fazer essa entrega e nós normalmente deveríamos assalta-los, mas os porcos lusos nos convenceram que nada melhor do que um navio pirata para passar pelas aguas orientais, que estão coalhadas de bandidos de todo tipo. Eu até pensei em abrir o referido recipiente, mas desisti. Era muito bem lacrado e não parecia ter metais dentro.
Perto do mar da Malásia, (The bosun brained with a marlinspike!) assaltamos um navio de corsários espanhóis. Malditos! Esses patifes não sabem mais o que é ser um pirata! Se vendem integralmente ao governo e passam a ter uma vida sossegada, livre de problemas com a marinha, eventualmente fazendo serviços para a coroa aqui e ali. Bem, era isso que lhes prometiam no ato do contrato. Fizemos eles arrependerem-se dessa vida fácil, não é mesmo? Ah se fizemos! Degolamos um por um desses malditos imprestáveis! O tesouro? Ah, sim, havia um tesouro sim. Não que fosse nosso objetivo sabe? (Yo ho ho and a bottle of rum!) À princípio queríamos apenas mostrar aos desgraçados qual o preço de vender sua liberdade, mas já que tinha todo aquele ferro e aquele rum no navio espanhol, não havia por que deixar para trás.
Por sorte os espanhóis também tinham uma carga (And the scullion he was stabbed times four) de laranjas. Nosso trovador estava de cama, quase morrendo por causa do escorbuto, mas com uma bela dose diária de vitamina C, seja lá o que for isso, ele melhorou. Deus! As viagens sem canções são extremamente tristes e enfadonhas! Nosso capitão, Miguel, havia nos proibido de ingerir uma gota de álcool sequer desde que Saul, o trovador, havia caído de cama. Nem uma gota sequer! Acredita nisso? Piratas sem bebida, háh! (Yo ho ho and a bottle of rum!) Mas a verdade era que o capitão estava certo, sim, o maldito estava certo. Saul conseguia manter o moral dos homens sempre alto, fosse em meio a uma escaramuça, fosse em uma tempestade. Como? Ah sim, ele é mouro sim, mas é um bom homem, inteligente, ele é. Quando em batalha, ele não empunha arma alguma. O desgraçado apenas canta! As balas parecem não se aproximar dele, e todos os homens o protegem dos cutelos inimigos. Sua canção nos anima, e lutar (All souls bound just contrawise) cantando suas músicas torna tudo muito mais fácil. Quando ele ficou doente, Capitão Miguel achou por bem não nos divertirmos enquanto ele não melhorasse ou morresse. Uma questão de honra, sabe? Consideração. E é por ele ter melhorado que essa festa está acontecendo. Amanhã, estamos pensando em...
- Capitão! Esquadra inimiga se aproximando a estibordo!
- Enfunem as velas e encham os canhões! Chegou o glorioso dia da nossa morte! HÁ HÁ HÁ HÁ HÁ! Saul! Não pare por nada, ou arranco seus olhos!
(That dared the knife and took the blade)
Bem, acho melhor continuarmos esse papo mais tarde, se sobrevivermos. Geralmente os ingleses só fazem barulho. Você é novo, talvez se assuste, mas confie no capitão e cante junto com Saul. Vá rápido! Pegue o seu arcabuz e fique pronto, quero você à postos no convés!

Fifteen men on a dead man's chest
Yo ho ho and a bottle of rum
Drink and the devil had done for the rest
Yo ho ho and a bottle of rum.
We wrapped 'em all in a mains'l tight
With twice ten turns of a hawser's bight
And we heaved 'em over and out of sight,
With a Yo-Heave-Ho! and a fare-you-well
And a sudden plunge in the sullen swell
Ten fathoms deep on the road to hell,
Yo ho ho and a bottle of rum!

Nenhum comentário:

Postar um comentário