Ricardo acordou em um
deserto.
Assustado, levantou
sobressaltado, cuspindo areia e chacoalhando a cabeça. “Como eu vim parar
aqui?”. Ele ainda estava zonzo, com dificuldades para se lembrar do que havia
acontecido. Aos poucos as imagens vinham à sua mente, primeiro em flashes,
depois em cenas, até que se lembrou de tudo. Mas ter lembrado não respondia a
pergunta: “Como eu vim parar aqui?”.
Eles estava indo para São
Paulo. Eram quase três da madrugada quando ele foi até a cabine do motorista
para fumar. Estavam conversando trivialidades quando uma luz surgiu do nada e o
ônibus bateu. Ricardo sentiu o impacto e seu corpo sendo arremessado para a
frente... e depois acordou no deserto.
Se ele estivesse no norte
do país, poderia cogitar a possibilidade de ter caído nos lençóis de areia, mas
a menos que ele estivesse estupidamente enganado, não deveria haver nada como
aquele lugar no norte do Paraná.
Ricardo levantou-se,
bateu a areia das roupas e observou em volta. Não havia nada. Suas roupas e seu
corpo estavam inteiros. Pela violência da batida, ele não deveria estar nem
vivo. “É isso! Será que eu morri? Mas isso é o inferno ou o céu? De repente é o
purgatório, e vou ficar aqui torrando no sol pra expiar meus pecados. Mas que
merda!”
Resolveu se beliscar, e
sentiu dor. Achou estranho, mas não impossível. Em seus bolsos ainda levava sua
carteira e seu celular, que por sinal, estava sem sinal. No céu, nada além de
um azul irritante. Mas bem lá ao longe, podia ver algumas nuvens. “Se lá tem
umidade, vou pra lá”. Caminhou por muitas e muitas horas, até que algo lhe
chamou a atenção. Portas. Várias delas. Sem construção, apenas as portas em pé.
Ficou em duvida se aquilo seria uma porta como na Torre Negra de Stephen King
ou algo mais no estilo Looney Toones. Não havia parede alguma, nem cordas nem
nada que as segurasse. Ricardo circulou a porta, por todos os lados, e ela
continuou lá, em pé, imóvel. Pensou que se abrisse ela, veria apenas o outro
lado. Girou a maçaneta e puxou.
Quando a porta abriu,
Ricardo pode ver o interior de uma casa. Sentado à mesa, um panda tomava café.
Ele o olhou com dúvida, e o homem fechou a porta com força, assustado. Esperou
seu coração desacelerar e mais uma vez olhou atrás da porta. Nada, apenas
areia. Tomou coragem e novamente girou a maçaneta.
O panda agora estava
virado de frente para a porta. Segurava um grande canecão de metal com a
palavra COFEE estampada. Podia sentir o cheiro da bebida. Café preto. “É como
um canecão da oktoberfest”. O urso não se movia. Apenas observava Ricardo com
curiosidade. Seu barrigão oscilando conforme respirava, o banquinho de madeira
tremendo por conta de seu peso. Como mais nada naquele lugar fazia sentido,
resolveu entrar na casa. Acenou uma vez para o morador, que respondeu o gesto,
de forma vagarosa. A cabeça do animal (animal?) estava inclinada. Ele parecia
tão intrigado quanto o rapaz. Ricardo circulou pelo lugar e reconheceu aquele apartamento.
Era o seu apartamento. Todos os porta-retratos e objetos de decoração dele
estavam ali. A vitrola, a televisão, o vídeo-game, a maquina de costura, tudo
ali. Ricardo chegou perto para observar as fotos e então tomou um susto. Eram
as fotos dele, mas nos retratos onde ele deveria aparecer, estava o panda!
Ricardo paralisou. Algo
de muito errado estava acontecendo. Vasculhou o imóvel, e no mais, tudo estava
igual a sua casa. Aquela era sua residência, sem duvidas.
Voltou para a copa e
fitou novamente o panda. Ele ainda estava lá. Caminhou até ele e esticou o
braço, tocando o urso na cabeça. O panda fechou os olhos, sentindo o toque.
Ricardo deu meia volta e
pegou uma caneca. Suspirou e colocou duas colheres de açúcar. Teria realmente morrido? Não tinha nenhum arranhão, então poderia ter realmente passado daquela para a melhor. Mas esse mundo era estranho demais. Talvez tivesse batido a cabeça e enlouquecido.
Cansado, puxou um dos bancos e
encheu a caneca com café.
Gostei muito do começo, realmente aguçou a curiosidade. Só achei que o final não correspondeu à qualidade do resto do texto.
ResponderExcluirOpa, agora sim!
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