7.4.14

Último dia no paraíso

Às 7:45 da manhã o sol conseguiu se esgueirar pelas frestas da cortina e entrar no nosso quarto. Culpa da janela que você esqueceu aberta ontem de noite, quando deitamos. A manhã começa fria. Sinto o ar gelado se agarrando ao meu pé que está pra fora da coberta.
Acordo com seu cabelo na minha boca. Não sei como ele foi parar ali. Será que você sonhou que era a Joelma? Tiro do meu rosto e o ajeito atrás de sua orelha. Linda. Se eu fosse um pintor, seria obrigado a fazer um quadro de você enquanto dorme. Acho que mesmo que eu fosse o Picasso não conseguiria retratar toda a beleza da cena. Se bem que, sendo realista, o Picasso pintava mal... Mas você entende o que eu quis dizer.
Me levanto devagar e vou até o banheiro escovar os dentes. Trago pra você um chocolate da geladeira. Quando você acordar, pode comê-lo pra tirar o gosto de guarda-chuva da boca. Assim, não preciso esperar você voltar do banheiro pra te beijar. Não por mim, mas eu sei que você não gosta.
Perto do meio-dia saio pra comprar um refrigerante. É domingo, e eu preciso me apressar porque depois não vai mais ter nenhum lugar aberto. Me sinto um sacrílego ao sair de perto de você quando você está com seu melhor visual: sem maquiagem, rabo de cavalo, calça de pijama e uma camisa minha sobre uma regata sua. Não sai da minha cabeça o seu sorriso me dizendo “volta logo”.
A chuva muda nossos planos. Nada de patins no parque. Sobram pra tarde os primeiros “Planeta dos macacos” e God of War. Seu senso de misericórdia é nulo, e seus olhos brilham enquanto está estraçalhando monstros. Voce me lembra do trabalho e eu te agarro no sofá. As provas dos alunos que se corrijam sozinhas.
Corrijo as provas dos alunos enquanto você fala com sua mãe. Às vezes penso que ela só quer ajudar, tirando você da minha rotina só pra que eu sinta saudade, nem que seja pelo pequeno tempo de uma ligação, tipo, duas horas. Quando encho o saco, vou até a cozinha preparar um yakissoba. Você me grita pra não exagerar no shoyu e logo depois emenda um ‘nada mãe, continua’. Me encanta o jeito que você dá pra continuar na minha vida a qualquer momento. Ou na real você pode só estar querendo comer um yakissoba que fique bom. Eu te entendo se for isso, mesmo. Pode deixar que a carne não vai ficar dura.
Quando o Fantástico começa eu te arrasto pra cama. A gente disputa quem fica mais tempo com a perna direita levantada. Ganho e você me morde. Jogamos até as baterias dos notebooks acabarem. O seu é mais novo que o meu. Você não sabe, mas as vezes, quando você não está, uso o seu pra jogar, só pra ter gráficos melhores.
Enquanto você toma banho, termino de corrigir as provas. Enquanto tomo banho, você termina de organizar suas coisas. A gente deita e você se esquece de apagar a luz. Sinto você na cama, mas já estou de olhos fechados. Seu cheiro chega devagar, em ondas. Enfio minha cara no seu cabelo e te abraço. Sei, mesmo sem ver, que você está sorrindo.

Adormeço pensando em como você vai conseguir acordar sorrindo, em plena segunda-feira, pra me desejar bom dia e me fazer levantar pro trabalho. Só você mesmo, viu...

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