João ia para o trabalho pela manhã. Seu nome
era comum, sua profissão era comum, seu terno preto e camisa branca, comuns.
Mas a sua mente não era comum. Bem, pelo menos ele lutava para não torná-la
como a dos outros.
Muitos homens sonham com carros caros, ou
carros velhos de colecionador, mulheres
gostosas, roupas bonitas, títulos para o time do coração e viagens para
Nova chata York.
Mas não João. Ele sonhava com outro
nascimento. A tal de era de aquário não era pra ele. Ser analista de sistemas
só era bom por que ele podia assistir animes no horário de almoço, com um belo
computador só pra ele. João sempre foi puto com deus, pois queria ter nascido
em uma época em que guerras eram decididas com bravura, e não com dinheiro para
fazer bombas. Queria cavalgar, ter um corpo de soldado, uma bela esposa e uma
prole saudável. Queria ser mestre em armas, e não importaria se tivesse nascido
mouro, viking, japonês, asteca ou bororo. Queria sentir o vento no rosto e ter
motivo para ir à luta. Não um salário ou bem material, mas vidas e lugares à
proteger, injustiças à evitar. Não por glórias, nem por espólios, apenas o
propósito.
Achava que esse desejo vinha da infância,
quando ele e seus amigos transformavam garrafas pet em espadas e duelavam
tardes inteiras, apenas pelo prazer das lutas imaginárias, onde caretas de
fúria infantil e golpes com nomes mirabolantes eram comuns. Talvez fossem os
últimos garotos da face da terra que ainda eram crianças aos 15-16. Hoje, esses
mesmo amigos, já sem disposição física para combates garrafais digladiam-se em
torno de uma mesa de RPG. Divertem-se da mesma forma, lutam e interpretam, riem
e discutem, mas sentem saudade dos combates em meio às vacas da Dona maria, no
pasto ao lado da casa do Zeca. Apenas comem e bebem, não mais transformando as
caixas de pizza em escudos e as pet's em espadas. Todos solteiros, todos
felizes, todos comuns. Infelizes.
Agora joão vai para o trabalho. Sua trilha no
Mp3 é "The suburbs", da Arcade Fire (que para João, parece nome de
game). Vai a pé, para tentar perder um pouco da barriga. Mais uma
segunda feira de tédio, computadores e rotina. Nada de donzelas, espada e
lança. Foram-se o cavalo e o estandarte, o forte e a flecha.
E então, preto-e-branco.
Me vi aí.
ResponderExcluiresse mereçe concurso
ResponderExcluirpublica um pro fim do mundo