Ko Yun Feng bebia. Não que fosse um alcoólatra, mas ia ao
saloon com frequência. A população de New Colorado já estava acostumada com seu
sorriso fácil, sua longa trança, seu sotaque horrível e sua habilidade de
equilibrar vários copos de uma só vez. Era bem quisto pelos outros imigrantes e
trabalhadores da ferrovia, namorava uma índia e apesar das dificuldades, era
feliz. Mas para John ele não era assim. Para John, todos os coolies eram
vermes.
Antes de Ko Yun chegar, John era temido e tinha todas as
suas vontades prontamente atendidas. Era conhecido por ser um assassino dos
piores, mas o xerife local não tinha como coloca-lo na cadeia e nem os seus
homens, pois o bando de John era empregado pelo dono da ferrovia e fazia todo
tipo de serviços sujos para ele.
Quando Ko Yun chegou da China, cheio de sonhos e
impulsionado por promessas de uma vida melhor, John estava fazendo um serviço
no oeste. Ko Yun tinha fugido de sua cidade, onde passava fome e via os membros
de sua família entregando-se um a um ao ópio. Conheceu alguns marinheiros no
porto e fugiu para a América.
Quando chegou, suas condições de trabalho eram tão
miseráveis quanto seriam na China, mas conseguiu se adaptar rapidamente e
apaixonou-se por uma indígena. Quando John voltou do oeste, Ko Yun já era visto
com ótimos olhos pelos moradores, e a opinião da cidade sobre os coolies mudou
por sua causa. John ficou furioso quando percebeu que suas piadas
preconceituosas surtiam cada vez menos efeito e arrancavam cada vez menos
risadas, principalmente quando Ko Yun estava no saloon.
Certo dia, Ko Yun foi até o balcão pegar uma dose de rum,
uma espécie de bebida feita de cana. “Esses americanos tem um gosto estranho
para nomes” pensava Ko Yun, que dera boas gargalhadas quando o dono do lugar lhe
disse que seu nome era Tom.
- Ora Tom, não sabia que vocês estavam vendendo lavagem
também – disse John, olhando diretamente para Ko Yun.
- Deixa disso John, ele é..
- Um porco, isso ele é. Malditos parasitas, vermes, coolies,
nunca deveriam ter saído daquele lugar nojento de onde vieram.
- Se não fosse por nós – disse Ko Yun, com sua voz aguda e
sotaque arrastado – suas ferrovias não poderiam transportar suas munições,
alimentos e drogas, além de que vocês não poderiam mais roubar as terras dos
índios.
Um dos homens de John levantou-se rápido e colocou uma faca
encostada na garganta de Ko Yun.
- Ora vejam só, o rato sabe morder! – Disse John, furioso - Seu
patife imundo! Você passou longe demais dessa vez. Vou jogar sua cabeça aos
abutres e...
E tão rápido quanto a vista conseguiria acompanhar, Ko Yun
dominou o capanga de John, quebrando seu cotovelo e tomando-lhe a faca,
apontada diretamente para o meio dos olhos de John, que por sua vez, sacou o
revólver a pontava para a testa de Ko Yun.
- Olhem só! Esse lixo acha que pode me desafiar! Ora, seja
homem então e me enfrente num duelo seu vermezinho!
Ko Yun aceitou, e foram os dois para a rua. Todos os
presentes foram até o beiral do saloon para ver o duelo, e aos poucos os
moradores e transeuntes se juntaram aos curiosos. Ko Yun sabia que seria
difícil, e que teria que ser muito rápido.
- Quando aquele abutre voar da cruz da igreja eu vou acabar
com você e de noite vou me divertir com a indiazinha que você está comendo! –
Provocou John, tentando enfurecer o chinês.
Quando o pássaro voou, John puxou seu revólver e disparou.
Ko Yun, com um olhar treinado, percebeu a direção da mão do pistoleiro e
desviou o ombro a tempo. Aproveitou-se do rápido momento de espanto de John
para avançar, indo para o lado direito de John. Ko Yun só tinha uma faca, e não
poderia enfrentar John de frente. Correu rápido como um raio, e John
descarregou o tambor atrás de John, mas não conseguiu lhe atingir. Quando o pistoleiro
largou o revólver para pegar um outro que estava na sua perna esquerda, Ko Yun
arremessou a faca, atingindo-lhe na mão direita. Correu para cima de John, e
com uma sequencia de golpes que só ficaria famosa nos cinemas pouco mais de
oitenta anos depois, derrubou John como se fosse um boneco de palha. John foi
levado para o hospital com três dedos quebrados, vários hematomas e o pomo de
adão deslocado.
Ko Yun Feng tornou-se um herói, dando fim ao legado de
terror de John e fazendo um grande favor ao xerife, que prendeu o resto do
bando.
John morreu poucos dias depois, pois seu pomo de adão não
parou de sangrar. Quando morreu, estava amassando um jornal com a foto de Ko
Yun estampada na primeira página.
Faaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaael, sempre criativo *-* meu mano.
ResponderExcluirMari e Digo.