1.6.12

Faroeste na Terra do Sol Nascente


John Connor só entendeu o que tinha lhe ocorrido quando, cambaleante, chutou seu próprio braço no chão.
John havia enriquecido às custas do sangue indígena. Foi general durante muito tempo nas missões de conquista do oeste americano, e muitas aldeias foram invadidas sob seu comando. Crianças e homens mortos, mulheres estupradas e casas queimadas eram rotina para a tropa de John, e ele próprio sempre escolhia algumas mulheres índias para violar. Era conhecido por seu temperamento explosivo e sua violência. Chamavam-no de Demônio do Oeste.
Depois de velho, resolveu deixar os campos de batalha e se tornar homem de negócios. Com o dinheiro que ganhou ou roubou comprou algumas ações na bolsa de valores e se tornou ainda mais poderoso.
Foi pago pelo governo americano para ir ao Japão negociar a prata nipônica. A Terra do Sol Nascente havia começado a industrializar-se há pouco tempo. O novo imperador era ainda um rapazote e os militares estavam começando a acostumar-se com um governo em que eles não eram a peça chave. Era uma bela terra. Com belas mulheres.
Passados três meses, John entediou-se. Cansou das prostitutas da cidade e foi procurar algo mais ‘selvagem’. Tomou um cavalo e partiu para a zona rural. Os policiais japoneses não seriam um problema. ‘São todos uns bárbaros’ pensou John. Avistou uma casinha isolada no meio de um pequeno campo e foi para lá. Nas imediações da plantação doméstica, uma bela moça brincava com seu filho. Era a vítima perfeita para ele. John atiçou o cavalo e foi em sua direção. A moça percebeu o cavalo de John e, tomando o filho no colo, tentou correr para dentro de casa, gritando palavras impronunciáveis.
Não adiantou. Em alguns segundos, John passou com seu cavalo por ela e, agarrando seus cabelos, a fez cair no chão. Ele apeou e foi andando vagarosamente na direção da moça. Tonta, ela tateava o chão em busca do filho, que chorava a plenos pulmões. Ele ergueu a moça pelo braço e com a mão suja, virou seu rosto de um lado para o outro, como que apreciando um produto qualquer. A moça, que chorara copiosamente até então, olhou por cima dos ombros de John e sorriu. O velho Demônio do Oeste não olhou sequer uma única vez na direção da casa. Esse foi seu erro.
John não percebeu que, no momento seguinte aos berros da mulher, um homem baixo, forte e esguio correu de dentro da casa com uma longa espada na cintura, numa velocidade espantosa para seu pouco tamanho. Quando John olhou para trás já era tarde: o americano largou a moça e tentou sacar seu revolver, mas no momento em que tocou a coronha, seu braço foi separado de seu corpo por um corte limpo e perfeito desferido pelo pequeno homem. John não entendeu o ocorrido. Ficou atônito, cambaleou e chutou o próprio braço. Quando começou a compreender o que se passava, a espada do pequeno japonês atravessou seu abdômen como se fosse faca quente adentrando manteiga.
E assim morreu John, matador de índios que não virou herói: sozinho, confuso, sem medalhas e sem caixão. 

Um comentário:

  1. Muito bom, tá cada vez mais evidente as influências e mesmo assim você deixa o autor Seiz aparecer, sem se esconder nos escritores que te dão artifícios e ideias...

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