4.6.12

Ricardo e o vestibular


Ricardo sempre foi neurótico com provas e concursos. Com 22 anos, estava agora fazendo a prova de sua vida: o vestibular para o curso de medicina na melhor universidade do país. Passou meses estudando em casa, fez 3 anos de cursinho, assistiu palestras e pagou professores particulares. Os ganhos de sua família (classe média) foram todos voltados para essa prova, e como toda pessoa obcecada, Ricardo já tinha feito planos para todos os anos do curso e de como seria sua vida após formar-se. Estava tudo pronto, era só fazer a prova e o resto aconteceria como planejado.
Mas já dizia o velho sábio que não deveríamos criar expectativas. E Ricardo era um rapaz que agia diametralmente contra tal frase.
No dia da prova, ele levou 4 canetas azuis, 2 pretas, 3 barrinhas de cereal  de sabores diferentes, uma garrafa d’água, remédio para gripe, lenço de pano, lápis, borracha e régua. Estava preparado para o que viesse. Enquanto não recebeu a prova, ficou meditando na cadeira enquanto os fiscais passavam as instruções. Ricardo sabia que seria um dos três últimos a sair da sala. Na realidade, sabia que os outros dois candidatos ficariam esperando na sala por sua culpa.
Depois de 4 horas de prova, Ricardo finalmente sai da sala com a sensação de dever cumprido. Porém o sorriso estampado em seu rosto vai diminuindo à medida que vai percebendo que, por seus cálculos, errou mais do que deveria, e não seria aprovado. “Céus, eu sabia que poderia errar no máximo 7 perguntas! O que foi que eu fiz!”. O rapaz respondeu a pergunta 72 de forma totalmente incoerente, e, sendo esta uma questão discursiva, destruiria de vez seus sonhos. Ele não sabia o que fazer. Sua cabeça começou a girar, suas mãos suavam. Ele não acreditava no que tinha feito, não depois de tanto tempo estudando apenas para esta prova. Este era o vestibular de sua vida, e ele tinha jogado fora. Começou a andar de um lado para o outro no corredor, e os fiscais começaram a estranhar seu comportamento. Ele não suportaria viver com essa culpa. Anos e anos jogados fora, todos os seus planos indo por água abaixo. Ricardo fez a única coisa que poderia ter feito: saiu correndo e se atirou da janela do 4° andar.
Um mês depois, o resultado do vestibular estava colado no mural da faculdade, com o nome de Ricardo constando na quarta colocação do curso de medicina.

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