Ricardo sempre foi neurótico com provas e concursos. Com 22
anos, estava agora fazendo a prova de sua vida: o vestibular para o curso de
medicina na melhor universidade do país. Passou meses estudando em casa, fez 3
anos de cursinho, assistiu palestras e pagou professores particulares. Os
ganhos de sua família (classe média) foram todos voltados para essa prova, e
como toda pessoa obcecada, Ricardo já tinha feito planos para todos os anos do
curso e de como seria sua vida após formar-se. Estava tudo pronto, era só fazer
a prova e o resto aconteceria como planejado.
Mas já dizia o velho sábio que não deveríamos criar
expectativas. E Ricardo era um rapaz que agia diametralmente contra tal frase.
No dia da prova, ele levou 4 canetas azuis, 2 pretas, 3
barrinhas de cereal de sabores
diferentes, uma garrafa d’água, remédio para gripe, lenço de pano, lápis,
borracha e régua. Estava preparado para o que viesse. Enquanto não recebeu a
prova, ficou meditando na cadeira enquanto os fiscais passavam as instruções.
Ricardo sabia que seria um dos três últimos a sair da sala. Na realidade, sabia
que os outros dois candidatos ficariam esperando na sala por sua culpa.
Depois de 4 horas de prova, Ricardo finalmente sai da sala
com a sensação de dever cumprido. Porém o sorriso estampado em seu rosto vai
diminuindo à medida que vai percebendo que, por seus cálculos, errou mais do
que deveria, e não seria aprovado. “Céus, eu sabia que poderia errar no máximo
7 perguntas! O que foi que eu fiz!”. O rapaz respondeu a pergunta 72 de forma
totalmente incoerente, e, sendo esta uma questão discursiva, destruiria de vez
seus sonhos. Ele não sabia o que fazer. Sua cabeça começou a girar, suas mãos
suavam. Ele não acreditava no que tinha feito, não depois de tanto tempo
estudando apenas para esta prova. Este era o vestibular de sua vida, e ele
tinha jogado fora. Começou a andar de um lado para o outro no corredor, e os
fiscais começaram a estranhar seu comportamento. Ele não suportaria viver com
essa culpa. Anos e anos jogados fora, todos os seus planos indo por água
abaixo. Ricardo fez a única coisa que poderia ter feito: saiu correndo e se
atirou da janela do 4° andar.
Um mês depois, o resultado do vestibular estava colado no
mural da faculdade, com o nome de Ricardo constando na quarta colocação do
curso de medicina.
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