2.7.12

Apologia à esmola.

Estava frio. Um sujeito maltrapilho, cabelo duro, nariz machucado e de chinelos me aborda, quando estou fazendo o caminho de volta para minha casa, trecho Rita Maria – TICEN.
- Licença, não vou pedir dinheiro não...
- Diga.
- Eu sei que provavelmente tu vai ser só mais um que vai dizer não, mas será que você poderia comprar alguma coisa pra eu comer?
- Mas aonde que eu vou achar um lugar agora?
- No terminal pô, não tá indo pra lá?
- Ta tudo fechado, hoje é domingo. Só se eu te comprar um espetinho ali no japonês.
Balança a cabeça, em concordância. Continuamos caminhando.
- Tá vindo daonde?
- Joinville.
- Cê é daqui né? Parece que cê é daqui.
- É, eu moro aqui, fui pra lá visitar minha família.
- Quem dera eu poder ver a minha...
- Tu é daonde?
- Garopaba.
- Ah, não é muito longe.
- Pra mim tá muito longe...
- O que que tu veio fazer aqui?
- Sabe o filme “À espera de um milagre”? Então, sou eu.
- Mas o que que tu veio fazer aqui?
- Igual no filme pô.
- E não conseguiu emprego?
- Quem vai dar emprego pra alguém que nem tem documento nem nada? Tô tentando juntar dinheiro pra ir pra casa, é R$ 10,50 a passagem.
- E a prefeitura, não ajuda?
- A assistente social disse que é pra eu esperar 15 dias.
Continuamos caminhando, devagar. Ele parecia sério.
- Não conseguiu nenhum emprego?
- Até ser assaltado, não. – tira umas moedas do bolso – To só com 50 centavos...
Chegando perto do lugar, ele arrisca.
- Cara, se em vez de me pagar o espeto tu me botar dentro daquele ônibus, eu te agradeço.
- Mas tu não tava com fome?
- Cê vai pagar 3,50 no espeto, eu preciso de 10 pila pra ir pra casa.
Paro. Respiro fundo, abro a carteira ainda com receio, pois a TV me ensinou direitinho a temer pessoas sujas. Na carteira, uma nota de 10 reais. Olhei pra ele, e ele sustentou o olhar, coisa difícil entre os que estão na rua, que são geralmente levados a assumir uma posição de subserviência.
- Cara, não sei se tua historia é verdade. Parece que sim – disse, estendendo-lhe a nota.
- E o que eu ganho mentindo?
- Não sei.
- Ô,  valeu.
Na hora, olhando pro estado dele, hesitei um pouco, mas consegui ultrapassar meu preconceito e estendi a mão pra ele. Apertou firme.
15 dias, assistência social? Pra dar 10 reais? Ele me convenceu. Em todo caso, era só um assistente levar ele até o ônibus, pra ver se ele foi mesmo.
E ainda querem vir me dizer que “dar esmola é errado”. Quem é o errado nessa história? 

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