30.6.12

Naufrágio


Ventos fustigantes esmurrando o casco, trovoes no céu e gritos. A tripulação se desespera e o barco começa a ranger, ranger, ranger, partir, ranger, e a vela se rasga e o mastro racha. A nau não naufraga, parte-se ao meio e vai sendo despedaçada pelas ondas.
***
Tom acorda, corpo dolorido, arranhões em todo lugar, gaivotas voando acima de sua cabeça. Com alguma dificuldade senta-se na areia, e contempla o seu entorno. Estava em uma ilha aparentemente selvagem, destroços do navio espalhados por todo o lado e alguns corpos. Todos mortos.
Caminha alguns metros pela costa, uns cinquenta, talvez sessenta, e chegando perto da agua novamante, desaba. Fecha os olhos e começa a ter visões. Começa revendo a tempestade, sentindo novamente o medo e o vislumbre, depois volta mais e mais, até chegar à casa onde aquela maravilhosa dama o aguarda. Começa a imaginar ela ali com ele, seu sorriso radiante, seu aroma celestial, sua pele branca como a neve. Vinha correndo pela orla, e Tom até podia ouvir seus pés espalhando água. Splash, splahs, splash, splash, quase real. Ela abre a boca para chamar seu nome, com aquela voz macia e musical que só ela tinha:
- TOM, SEU CAGA-MILHO DE UMA FIGA! NÃO ACREDITO!
Com seu sonho despedaçado como vidro, Tom abre os olhos e vê a pessoa que menos esperaria e gostaria de ver.
- Ah, Hanks, você sobreviveu...
- Cara! Velho! Cara, cê nem acredita! Cara, achei que tivesse sobrado só eu!
- E foi? Mais ninguém sobreviveu? – Perguntou Tom, com medo de uma resposta afirmativa. Hanks era, de longe, o cara mais idiota da tripulação.
- Sim, só tem a gente agora! O resto virou comida de tubarão, há há!
            - Como você sobreviveu?
            - Quando a tempestade começou, eu enchi um bote com algumas coisas e me lancei no mar, foi muito aventuroso! Cara, velho, tu tinha que tá comigo!
            - Vamos lá, me deixe ver o que você trouxe.
Caminharam cerca de meia hora e chegaram até uma mini cabana, onde Hanks guardava o que achava.
- Voce pegou essa madeira dos pedaços do barco?
- Não.
- Já estavam na ilha?
- Não, não. São do bote.
- Seu animal! Porque você fez isso?
- Ué, eu não ia mais usar aquilo. Olha só isso aqui!
Hanks mostra para Tom tudo que trouxe: vários porta retratos, duas espadas, um arcabuz, alguns panos e muitas peças de ouro.
- Nada de comida?
- Pra que? É só vendermos o ouro!
- Lógico, imbecil, vamos vender aos macacos! – Disse tom saindo da cabana com as mãos no rosto e sussurrando para si mesmo “babaca, babaca, babaca”. Hanks logo o alcançou.
- Sabe Tom, eu tava pensando... Só estamos nós aqui certo?
- Sim.
- Isso significa que não veremos mulheres tão cedo, certo?
- Ah não!
- Hein?
- Não comece!
- O que, velho?
- Não me venha com esse papo!
- Pô, mas eu achei que sem mulheres aqui, sabe, nós deveríamos nos – uma pancada seca soa do supercílio de Hanks, devido ao soco que Tom lhe deu. O rapaz começa a rolar no chão. Tom se vira enfurecido e sai caminhando pela praia.
- Eu só ia falar que nós deveríamos nos dividir nas tarefas!
Tom não dá ouvidos. Só conseguia dizer pra si mesmo“babaca, babaca, babaca”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário