Ventos fustigantes
esmurrando o casco, trovoes no céu e gritos. A tripulação se desespera e o
barco começa a ranger, ranger, ranger, partir, ranger, e a vela se rasga e o
mastro racha. A nau não naufraga, parte-se ao meio e vai sendo despedaçada
pelas ondas.
***
Tom acorda, corpo
dolorido, arranhões em todo lugar, gaivotas voando acima de sua cabeça. Com
alguma dificuldade senta-se na areia, e contempla o seu entorno. Estava em uma
ilha aparentemente selvagem, destroços do navio espalhados por todo o lado e
alguns corpos. Todos mortos.
Caminha alguns metros pela
costa, uns cinquenta, talvez sessenta, e chegando perto da agua novamante,
desaba. Fecha os olhos e começa a ter visões. Começa revendo a tempestade,
sentindo novamente o medo e o vislumbre, depois volta mais e mais, até chegar à
casa onde aquela maravilhosa dama o aguarda. Começa a imaginar ela ali com ele,
seu sorriso radiante, seu aroma celestial, sua pele branca como a neve. Vinha
correndo pela orla, e Tom até podia ouvir seus pés espalhando água. Splash,
splahs, splash, splash, quase real. Ela abre a boca para chamar seu nome, com
aquela voz macia e musical que só ela tinha:
- TOM, SEU CAGA-MILHO
DE UMA FIGA! NÃO ACREDITO!
Com seu sonho
despedaçado como vidro, Tom abre os olhos e vê a pessoa que menos esperaria e
gostaria de ver.
- Ah, Hanks, você sobreviveu...
- Cara! Velho! Cara, cê
nem acredita! Cara, achei que tivesse sobrado só eu!
- E foi? Mais ninguém
sobreviveu? – Perguntou Tom, com medo de uma resposta afirmativa. Hanks era, de
longe, o cara mais idiota da tripulação.
- Sim, só tem a gente agora!
O resto virou comida de tubarão, há há!
- Como você sobreviveu?
- Quando a tempestade começou, eu
enchi um bote com algumas coisas e me lancei no mar, foi muito aventuroso!
Cara, velho, tu tinha que tá comigo!
- Vamos lá, me deixe ver o que você trouxe.
Caminharam cerca de
meia hora e chegaram até uma mini cabana, onde Hanks guardava o que achava.
- Voce pegou essa
madeira dos pedaços do barco?
- Não.
- Já estavam na ilha?
- Não, não. São do
bote.
- Seu animal! Porque
você fez isso?
- Ué, eu não ia mais
usar aquilo. Olha só isso aqui!
Hanks mostra para Tom
tudo que trouxe: vários porta retratos, duas espadas, um arcabuz, alguns panos
e muitas peças de ouro.
- Nada de comida?
- Pra que? É só
vendermos o ouro!
- Lógico, imbecil,
vamos vender aos macacos! – Disse tom saindo da cabana com as mãos no rosto e
sussurrando para si mesmo “babaca, babaca, babaca”. Hanks logo o alcançou.
- Sabe Tom, eu tava
pensando... Só estamos nós aqui certo?
- Sim.
- Isso significa que
não veremos mulheres tão cedo, certo?
- Ah não!
- Hein?
- Não comece!
- O que, velho?
- Não me venha com esse
papo!
- Pô, mas eu achei que
sem mulheres aqui, sabe, nós deveríamos nos – uma pancada seca soa do
supercílio de Hanks, devido ao soco que Tom lhe deu. O rapaz começa a rolar no
chão. Tom se vira enfurecido e sai caminhando pela praia.
- Eu só ia falar que
nós deveríamos nos dividir nas tarefas!
Tom não dá ouvidos. Só
conseguia dizer pra si mesmo“babaca, babaca, babaca”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário