Silvio estava cansado de esperar. Maria
disse que voltaria no ultimo trem, mas como ele não sabia quais eram os
horários, foi para a estação no fim da tarde.
Os pais de Maria moravam em um bairro já quase
fora de Tokyo, num lugar de difícil acesso e relativamente perigoso. Das vezes
que foram juntos, nunca aconteceu nada, mas como tinham brigado na noite
anterior, Maria quis ir sozinha.
Silvio saiu do trabalho e foi para a estação.
Matou tempo lendo uma revista de mangás que
achou abandonada em um banco, e depois andando de um lado para o outro. Foi até
a beirada, de lá foi para a esquerda, e depois para a direita, subindo no
pavimento, costurando o chão com seus pés. A estação estava incrivelmente vazia
naquele dia.
Trens e mais trens (ou seriam metrôs) chegavam e saíam, mas
Maria não saía de nenhum deles.
Por um tempo, Silvio ficou observando um
velhinho que se aproximava da borda da estação. Levava quase dois segundos para
dar um passo. Suas costas estavam encurvadas, e ele se apoiava em uma bengala
simples de bambu. Usava pulôver sobre uma camisa branca e uma boina verde,
muito comum entre os anciãos japoneses. O trajeto, que pessoas jovens faziam em
menos de trinta segundos, já estava sendo percorrido a cerca de oito minutos
pelo velhinho. Quando chegou na borda, exatamente no mesmo momento um trem
encostou e abriu a porta. Sem parar, continuando seu ritmo, aquele senhor
entrou no trem, como se simplesmente estivesse continuando a caminhar pela
estação. Silvio primeiramente pensou em sorte, mas depois, nada lhe tirou da
cabeça que aquele senhor tinha calculado o tempo minuciosamente. “Eis um bom
exemplo do que é ser um com o mundo” ironizou em pensamento.
Quando o trem da meia-noite, ultimo da linha,
chegou e não saiu Maria de lá, Silvio deixou de lado o torpor e se
preocupou. “Algo deve ter acontecido” pensou ele. Saiu correndo da estação e
foi até em casa. Morava perto, e por isso não viera de carro. Pegou uma blusa,
um pacote de bolachas, cigarros e isqueiro. Pegaria o carro e iria até a casa dos sogros. Algo não estava cheirando bem.
De fato, cheirava à merda de cachorro.
Silvio começou a procurar a origem do fedor,
afinal, ele e Maria não tinham animais de estimação. Viu manchas no chão que
continuavam pela escada. Segurou seu ímpeto de subir correndo e foi até o carro
pegar a arma.
Seguiu as marcas de cocô no assoalho e chegou
até seu quarto. Abriu a porta vagarosamente e acendeu a luz. Viu
apenas um amontoado de cobertores e edredons na cama. No chão, os tênis de Maria. Dava
para ver um pouquinho de bosta na lateral do calçado. Caminhou devagar até a
cama, e ao puxar as cobertas, viu Maria dormindo, uma esfera de baba decorando
a fronha.
Ele sorriu. Maria devia ter voltado mais cedo, e como estavam brigados, não havia ligado. Silvio foi até o carro e guardou a arma, achando graça no fato de não ser um com o mundo.
Ele sorriu. Maria devia ter voltado mais cedo, e como estavam brigados, não havia ligado. Silvio foi até o carro e guardou a arma, achando graça no fato de não ser um com o mundo.
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