16.12.14

O Andarilho

O andarilho caminhava sobre as areias vermelhas do deserto, com sede e cansado. Doze revolveres pendiam de vários coldres espalhados sobre seu corpo, cada uma carregando doze balas em seus tambores, preparadas para se projetarem através de canos de doze centímetros. O andarilho não carregava balas consigo além das que estavam nas pistolas. Sempre que disparava, ele as repunha. Cada uma delas tinha o nome de um apóstolo, e uma das mais antigas, com o cano torto, foi nomeada Judas, devido ao grande risco de explodir ao disparar.
O andarilho vai de cidade em cidade, procurando por cartazes de procurados. Ele mesmo tem uma recompensa alta por sua cabeça, mas sempre sobreviveu as tentativas de ser capturado. A maioria das vezes aconteceu quando ele próprio levava algum fugitivo, e o xerife e seus comparsas tentavam mata-lo também.
Ele chega nas cidades, dorme com três prostitutas diferentes, toma três copos de três bebidas diferentes, e, se possível, escolhe três fugitivos. Não fala com ninguém, não pergunta nada. Apenas pega os cartazes e se vai. No máximo, dentro de três anos, ele traz todos os três fugitivos, sempre mortos. Geralmente, ele conclui o serviço dentro de três meses, mas nem sempre as coisas acontecem como queremos, sabe como é.
O andarilho viu a morte de Custer. Foi a ultima vez em que ele riu. Sua barriga doía, e ele rolava pelo chão. Ele adorava os índios.
Certa vez, algumas tribos estavam mantendo cerco a um forte, mas sem sucesso. Ele foi até o líder da tribo, pagou três peças de ouro, fumou de três cachimbos e ficou seis horas dançando e cantando. Depois, caminhou até o forte, entrou, e disparou suas armas cento e quarenta e quatro vezes. Judas não explodiu. Carregou os tambores e urinou por doze segundos. Os indígenas o apelidaram de cobra, e uma serpente foi entalhada em seu grande totem.
Ele tinha cicatrizes por todo o corpo, não tinha um dos dedos da mao direita, mas não podemos dizer qual, e nunca sorria. A não ser com os indígenas, ele nunca falava. Seu corpo recendia a grandes distancias. As prostitutas em geral torciam o nariz antes de se deitarem com ele, mas a maioria nem cobrava o serviço depois. Sempre que terminava o ato, o Andarilho ia até o banheiro e chorava.
Sempre no dia doze de dezembro, ao meio dia, o Andarilho estava no meio do deserto. Ele disparava as doze balas de seus doze revolveres e em circulo, dava doze passos, esperando que uma das balas voltasse com uma mensagem dos céus e o levasse para o inferno. Nunca aconteceu.
Depois disso, ele retirava um desenho feito por sua filha, Julien Samara, que foi morta aos doze anos, nesse mesmo dia, com doze facadas desferidas por um homem bêbado que adentrara sua casa a noite. O andarilho estava caçando seu decimo segundo suspeito, pois era pai solteiro e precisava de dinheiro.
Assim, sem balas, o andarilho vai atrás de seu próximo alvo apenas com suas duas facas.

Essa é a historia de um homem que está preso ao passado.

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