O andarilho
caminhava sobre as areias vermelhas do deserto, com sede e cansado. Doze revolveres
pendiam de vários coldres espalhados sobre seu corpo, cada uma carregando doze
balas em seus tambores, preparadas para se projetarem através de canos de doze
centímetros. O andarilho não carregava balas consigo além das que estavam nas
pistolas. Sempre que disparava, ele as repunha. Cada uma delas tinha o nome de
um apóstolo, e uma das mais antigas, com o cano torto, foi nomeada Judas,
devido ao grande risco de explodir ao disparar.
O andarilho vai
de cidade em cidade, procurando por cartazes de procurados. Ele mesmo tem uma
recompensa alta por sua cabeça, mas sempre sobreviveu as tentativas de ser
capturado. A maioria das vezes aconteceu quando ele próprio levava algum
fugitivo, e o xerife e seus comparsas tentavam mata-lo também.
Ele chega nas
cidades, dorme com três prostitutas diferentes, toma três copos de três bebidas
diferentes, e, se possível, escolhe três fugitivos. Não fala com ninguém, não pergunta
nada. Apenas pega os cartazes e se vai. No máximo, dentro de três anos, ele
traz todos os três fugitivos, sempre mortos. Geralmente, ele conclui o serviço
dentro de três meses, mas nem sempre as coisas acontecem como queremos, sabe
como é.
O andarilho viu
a morte de Custer. Foi a ultima vez em que ele riu. Sua barriga doía, e ele
rolava pelo chão. Ele adorava os índios.
Certa vez,
algumas tribos estavam mantendo cerco a um forte, mas sem sucesso. Ele foi até
o líder da tribo, pagou três peças de ouro, fumou de três cachimbos e ficou
seis horas dançando e cantando. Depois, caminhou até o forte, entrou, e
disparou suas armas cento e quarenta e quatro vezes. Judas não explodiu.
Carregou os tambores e urinou por doze segundos. Os indígenas o apelidaram de
cobra, e uma serpente foi entalhada em seu grande totem.
Ele tinha
cicatrizes por todo o corpo, não tinha um dos dedos da mao direita, mas não podemos
dizer qual, e nunca sorria. A não ser com os indígenas, ele nunca falava. Seu
corpo recendia a grandes distancias. As prostitutas em geral torciam o nariz
antes de se deitarem com ele, mas a maioria nem cobrava o serviço depois.
Sempre que terminava o ato, o Andarilho ia até o banheiro e chorava.
Sempre no dia
doze de dezembro, ao meio dia, o Andarilho estava no meio do deserto. Ele
disparava as doze balas de seus doze revolveres e em circulo, dava doze passos,
esperando que uma das balas voltasse com uma mensagem dos céus e o levasse para
o inferno. Nunca aconteceu.
Depois disso,
ele retirava um desenho feito por sua filha, Julien Samara, que foi morta aos
doze anos, nesse mesmo dia, com doze facadas desferidas por um homem bêbado que
adentrara sua casa a noite. O andarilho estava caçando seu decimo segundo
suspeito, pois era pai solteiro e precisava de dinheiro.
Assim, sem
balas, o andarilho vai atrás de seu próximo alvo apenas com suas duas facas.
Essa é a
historia de um homem que está preso ao passado.
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