27.12.11

02 - O Menino que Espirrava Trovões! - Arco-Íris

  E então o Clube dos Estranhos estava construído. Amigo estava com o pé esquerdo enfaixado, pois deixara o martelo cair quando viu que Menino ia espirrar. Não teve outra alternativa a não ser largar o martelo e tampar os ouvidos. Depois disso, passou a sempre levar um par de tampões pendurados no pescoço. Quando estavam juntos em espaço fechado, ele sempre os usava.
  Os garotos do colégio  voltaram a perseguir Menino e Amigo, mas cada vez menos tinham exito em aplicar-lhes surras. Eles agora tinham medo de Menino, e sempre tentavam pegá-lo de surpresa. Amigo, sabendo disso, sempre pedia que alguns passarinhos ficassem de guarda quando estivesse separado de Menino. O grande problema era que os garotos eram muitos, e com o tempo aprenderam a bater nos dois amigos justamente quando estes estavam separados. Aplicavam vários golpes no nariz de Menino para que este não pudesse espirrar, e alguns levavam varas compridas para espantar os passarinhos que poderiam ajudar Amigo. Este plano foi arquitetado por Repetente, o novo líder dos garotos, e um dos que tinham tido seu tímpano estourado no bimestre anterior.
  Mas com o passar do tempo, os Estranhos passaram a criar rotas de fuga que os garotos não conheciam, e sempre que queriam podiam refugiar-se no Clube. Dessa forma, as surras diminuíram consideravelmente. Assim, o Clube se tornou o esconderijo perfeito, secreto e sempre disponível. E também, com o aumento das brigas, Menino e Amigo começaram a aprender a se defender melhor. Aos poucos, iam aprendendo a brigar.
  Certo dia, quando Menino e Amigo estavam no Clube jogando xadrez e falando mal da professora de matemática, ouviram palmas do lado de fora e viram luzes coloridas refulgirem pela janela. Foram até a janela e viram uma garotinha com cara de emburrada parada lá embaixo. Menino e Amigo se entreolharam, desconfiados.
- Quem é você? Acho que já te vi na escola... - disse Amigo, fazendo cara feia.
- Eu quero entrar para o clube - disse a garota, direta, sem rodeios. Ela tinha os cabelos pretos e lisos, presos em rabo de cavalo, e usava um vestido vermelho com bolinhas pretas.
- Aqui é o Clube dos Estranhos. Só pessoas estranhas podem entrar. Me desculpe - disse Menino. Ele fez cara séria, mas na realidade estava quase jogando a escada para ela. Ele achou a menina muito bonita.
- É, e não conte a ninguém sobre o Clube. - ralhou Amigo.
- Deixem de besteira e joguem logo a escada pra baixo. Eu sou uma estranha também. - disse a menina, com um sorriso maroto, botando as mãos na cintura. - Vai, antes que alguém me veja aqui embaixo. quer que descubram a localização do Clube?
Os amigos hesitaram por alguns instantes, mas depois jogaram a escada de cordas para ela. Chegando lá em cima, a garota olhou com reprovação as instalações do lugar, de uma forma que só as garotas sabem fazer, pensando que faltava um toque feminino na decoração. Seu vestido estava lilás. Menino e Amigo estavam sentados no chão, olhando para a estranha garota.
- E então, qual é sua estranheza? - perguntou Amigo, visivelmente incomodado, e igualmente curioso.
- Você não deveria se apresentar primeiro? Ou então perguntar meu nome, sei lá, acho que seria mais educado...
Amigo estava se irritando cada vez mais com a garota. Já Menino estava achando tudo aquilo o máximo.
- Ah, que seja. Meu nome é secreto, mas pode me chamar de Ami...
- Amigo, conversa com animais, e ele é Menino, espirra trovões. - interrompeu a menina com soberba, como se tivesse atirado mais rápido, visivelmente divertindo-se às custas dos garotos. Amigo ficou incrédulo e irritado.
- Diacho! Se já sabia, porque perguntou?
- Oras, apenas para iniciar a conversa de forma descontraída. - respondeu ela, piscando e estalando os dedos.
Menino não se conteve e explodiu numa gargalhada. A garota era corajosa. E um pouco petulante, também. Ela, porém, ficou toda vermelha. Sua atuação era pra ser impressionante, e não cômica.
- Pois bem, - disse Menino, respirando fundo - então nos diga seu nome, sua estranheza e como nos encontrou, por favor.
- Não trate ela bem! Ela é uma chata! - reclamou Amigo, revoltado, mas a menina falou em voz alta, abafando os protestos dele.
- Meu nome é Arco Íris, mas me chamem apenas de Arco. Posso criar cores e achei vocês pelas pegadas que deixaram na grama.
Os dois pareceram não entender.
- Deixem-me explicar melhor. A grama onde vocês pisaram ficou com uma tonalidade diferente da grama não-pisada. Eu sei quem são vocês por causa da escola, e percebi que vocês sempre sumiam das redondezas depois da aula. Aí achei seu rastro e descobri o clube.
Eles ficaram satisfeitos com a explicação da menina, mas continuaram com uma certa cara de paisagem. O que ela quis dizer com "posso criar cores?"
  "Acho que vou lhes dar uma demonstração" disse a garota, estendendo as mãos para a parede e para o piso. Em alguns instantes, as paredes e o piso feitos de velhas tábuas começaram a ficar coloridos, como se alguma tinta estivesse brotando do próprio interior das tábuas. Espalhando-se como sangue, as cores tomaram conta do local e preencheram todo o espaço. As paredes laterais e da frente ficaram azul claro com alguns riscos em branco, e na parede dos fundos, uma inscrição apareceu com nuvens soltando raios e pássaros voando em volta do nome "Clube dos Estranhos", escrito em letras de graffiti, que mudavam de cor vagarosamente. O chão ficou parecendo mármore, e no teto personagens dos mais variados desenhos animados misturavam-se em um painel magnífico.
- Caramba! Isso ficou demais! Mas espera aí... como você sabia o nome do clube? - Disse Amigo, esquecendo momentaneamente da raiva e chamando os animais que estavam por perto para ver a mudança no clube. "ouvi um de vocês falando, na fila da merenda" respondeu ela. Os garotos se entreolharam, percebendo a mancada que deram. Menino apertou as mãos de Arco, que estava visivelmente satisfeita consigo mesma.
- Arco, isso foi incrível! Ficou muito massa! Seja bem-vinda ao Clube dos Estranhos. - disse menino, demorando um pouco mais do que o necessário para soltar as mãos da garota, e corando ao perceber o que tinha feito. O vestido de Arco ficou rosa e as bolinhas, brancas.
  A tarde transcorreu animada, com os estranhos trocando experiências engraçadas e tristes. Falaram sobre as aulas e a escola, e Menino e Amigo travaram uma longa discussão sobre qual a melhor matéria: história ou educação física. Arco não quis desempatar e disse que gostava mais de artes, e os garotos ficaram um bom tempo caçoando dela, pois a professora era quase cega e qualquer um tirava nota dez. Além do mais, era muito fácil para Arco fazer bons desenhos.
  No fim da tarde quando saíram do bosque e se encaminharam para suas casas, os estranhos não perceberam que estavam sendo observados. Os animais não falaram nada incomum para Amigo, e Arco não percebeu nenhuma variação de cor no gramado. Conversaram mais um pouco e seguiram para suas casas. Menino se propôs a levar Arco pra casa. Não sabia o porque, mas queria conversar um pouquinho mais com a garota. Ela também não se importou nem um pouco. Amigo não tinha nenhuma intenção de acompanhar ela, e seguiu sozinho pela rua de baixo.
No bosque, Repetente, o líder dos garotos valentões, esgueirava-se pelas moitas e estudava a estrutura do clube, tentando descobrir como liberar a escada.

- Então é aqui que as aberrações se escondem...

Um comentário:

  1. Muito bom, mas tomasse quantas doses de lsd antes de escrever isso? huahahaha, abs!

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