E
então o Clube dos Estranhos estava construído. Amigo estava com o pé
esquerdo enfaixado, pois deixara o martelo cair quando viu que Menino ia
espirrar. Não teve outra alternativa a não ser largar o martelo e tampar os
ouvidos. Depois disso, passou a sempre levar um par de tampões pendurados no
pescoço. Quando estavam juntos em espaço fechado, ele sempre os usava.
Os garotos do colégio voltaram a perseguir
Menino e Amigo, mas cada vez menos tinham exito em aplicar-lhes surras. Eles
agora tinham medo de Menino, e sempre tentavam pegá-lo de surpresa. Amigo,
sabendo disso, sempre pedia que alguns passarinhos ficassem de guarda quando
estivesse separado de Menino. O grande problema era que os garotos eram muitos,
e com o tempo aprenderam a bater nos dois amigos justamente quando estes
estavam separados. Aplicavam vários golpes no nariz de Menino para
que este não pudesse espirrar, e alguns levavam varas compridas para espantar
os passarinhos que poderiam ajudar Amigo. Este plano foi arquitetado por
Repetente, o novo líder dos garotos, e um dos que tinham tido seu tímpano
estourado no bimestre anterior.
Mas com o passar do tempo, os Estranhos passaram a
criar rotas de fuga que os garotos não conheciam, e sempre que queriam podiam
refugiar-se no Clube. Dessa forma, as surras diminuíram consideravelmente.
Assim, o Clube se tornou o esconderijo perfeito, secreto e sempre disponível. E
também, com o aumento das brigas, Menino e Amigo começaram a aprender a se
defender melhor. Aos poucos, iam aprendendo a brigar.
Certo dia, quando Menino e Amigo estavam no Clube
jogando xadrez e falando mal da professora de matemática, ouviram palmas do
lado de fora e viram luzes coloridas refulgirem pela janela. Foram até a janela
e viram uma garotinha com cara de emburrada parada lá embaixo. Menino e Amigo
se entreolharam, desconfiados.
- Quem é você? Acho que já te vi na escola... - disse
Amigo, fazendo cara feia.
- Eu quero entrar para o clube - disse a garota, direta,
sem rodeios. Ela tinha os cabelos pretos e lisos, presos em rabo de cavalo, e
usava um vestido vermelho com bolinhas pretas.
- Aqui é o Clube dos Estranhos. Só pessoas estranhas podem
entrar. Me desculpe - disse Menino. Ele fez cara séria, mas na realidade estava
quase jogando a escada para ela. Ele achou a menina muito bonita.
- É, e não conte a ninguém sobre o Clube. - ralhou Amigo.
- Deixem de besteira e joguem logo a escada pra baixo. Eu
sou uma estranha também. - disse a menina, com um sorriso maroto, botando as
mãos na cintura. - Vai, antes que alguém me veja aqui embaixo. quer que
descubram a localização do Clube?
Os amigos hesitaram por alguns instantes, mas depois
jogaram a escada de cordas para ela. Chegando lá em cima, a garota olhou com
reprovação as instalações do lugar, de uma forma que só as garotas sabem fazer,
pensando que faltava um toque feminino na decoração. Seu vestido estava lilás.
Menino e Amigo estavam sentados no chão, olhando para a estranha garota.
- E então, qual é sua estranheza? - perguntou Amigo,
visivelmente incomodado, e igualmente curioso.
- Você não deveria se apresentar primeiro? Ou então
perguntar meu nome, sei lá, acho que seria mais educado...
Amigo estava se irritando cada vez mais com a garota. Já
Menino estava achando tudo aquilo o máximo.
- Ah, que seja. Meu nome é secreto, mas pode me chamar de
Ami...
- Amigo, conversa com animais, e ele é Menino, espirra
trovões. - interrompeu a menina com soberba, como se tivesse atirado mais
rápido, visivelmente divertindo-se às custas dos garotos. Amigo ficou incrédulo
e irritado.
- Diacho! Se já sabia, porque perguntou?
- Oras, apenas para iniciar a conversa de forma
descontraída. - respondeu ela, piscando e estalando os dedos.
Menino não se conteve e explodiu numa gargalhada. A garota
era corajosa. E um pouco petulante, também. Ela, porém, ficou toda vermelha.
Sua atuação era pra ser impressionante, e não cômica.
- Pois bem, - disse Menino, respirando fundo - então nos
diga seu nome, sua estranheza e como nos encontrou, por favor.
- Não trate ela bem! Ela é uma chata! - reclamou Amigo,
revoltado, mas a menina falou em voz alta, abafando os protestos dele.
- Meu nome é Arco Íris, mas me chamem apenas de Arco. Posso
criar cores e achei vocês pelas pegadas que deixaram na grama.
Os dois pareceram não entender.
- Deixem-me explicar melhor. A grama onde vocês pisaram
ficou com uma tonalidade diferente da grama não-pisada. Eu sei quem são vocês
por causa da escola, e percebi que vocês sempre sumiam das redondezas depois da
aula. Aí achei seu rastro e descobri o clube.
Eles ficaram satisfeitos com a explicação da menina, mas
continuaram com uma certa cara de paisagem. O que ela quis dizer com
"posso criar cores?"
"Acho que vou lhes dar uma demonstração"
disse a garota, estendendo as mãos para a parede e para o piso. Em alguns
instantes, as paredes e o piso feitos de velhas tábuas começaram a ficar
coloridos, como se alguma tinta estivesse brotando
do próprio interior das tábuas. Espalhando-se como sangue, as cores
tomaram conta do local e preencheram todo o espaço. As paredes laterais e da
frente ficaram azul claro com alguns riscos em branco, e na parede dos fundos,
uma inscrição apareceu com nuvens soltando raios e pássaros voando em volta do
nome "Clube dos Estranhos", escrito em letras de graffiti, que mudavam
de cor vagarosamente. O chão ficou parecendo mármore, e no teto personagens dos
mais variados desenhos animados misturavam-se em um painel magnífico.
- Caramba! Isso ficou demais! Mas espera aí... como você
sabia o nome do clube? - Disse Amigo, esquecendo momentaneamente da raiva e
chamando os animais que estavam por perto para ver a mudança no clube.
"ouvi um de vocês falando, na fila da merenda" respondeu ela. Os
garotos se entreolharam, percebendo a mancada que deram. Menino apertou as mãos
de Arco, que estava visivelmente satisfeita consigo mesma.
- Arco, isso foi incrível! Ficou muito massa! Seja
bem-vinda ao Clube dos Estranhos. - disse menino, demorando um pouco mais do
que o necessário para soltar as mãos da garota, e corando ao perceber
o que tinha feito. O vestido de Arco ficou rosa e as bolinhas, brancas.
A tarde transcorreu animada, com os estranhos trocando
experiências engraçadas e tristes. Falaram sobre as aulas e a escola, e Menino
e Amigo travaram uma longa discussão sobre qual a melhor matéria: história ou
educação física. Arco não quis desempatar e disse que gostava mais de artes, e
os garotos ficaram um bom tempo caçoando dela, pois a professora era quase cega
e qualquer um tirava nota dez. Além do mais, era muito fácil para Arco fazer bons
desenhos.
No fim da tarde quando saíram do bosque e se encaminharam
para suas casas, os estranhos não perceberam que estavam sendo observados. Os
animais não falaram nada incomum para Amigo, e Arco não percebeu nenhuma
variação de cor no gramado. Conversaram mais um pouco e seguiram para suas
casas. Menino se propôs a levar Arco pra casa. Não sabia o porque, mas queria
conversar um pouquinho mais com a garota. Ela também não se importou nem um
pouco. Amigo não tinha nenhuma intenção de acompanhar ela, e seguiu sozinho
pela rua de baixo.
No bosque, Repetente, o líder dos garotos valentões,
esgueirava-se pelas moitas e estudava a estrutura do clube, tentando descobrir
como liberar a escada.
- Então é aqui que as aberrações se escondem...
Muito bom, mas tomasse quantas doses de lsd antes de escrever isso? huahahaha, abs!
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