Eu
posso ouvir o som dos tambores e o grito abafado das trombetas, ao longe, lá
atrás. Corro com o vento, que banha meus cabelos e resfria meu suor. Porto-me
como a água, desvio-me de meus inimigos com fluidez e paciência. Minha lança é
como um trovão e minha espada divide montanhas. Sempre fui exemplo nos
combates, mas neste que se trava hoje eu serei apenas mais um. Por quê?
Os
tambores soam mais alto, as trombetas ecoam mais forte.
10
segundos. Tudo vai ficando para trás a cada passada de minha montaria. Todo
este tempo vivido, todos estes inimigos assassinados para, no fim, eu não ver
mais sentido nessa coisa toda. Uma angústia perigosa se apossa de mim.
9
segundos. Não sei se o que sinto são as batidas dos tambores ou do meu coração.
As árvores se inclinam conforme avanço e o céu parece escurecer-se. Tento
lembrar-me do motivo que me levou àquele lugar, mas nada me vem à cabeça.
8
segundos. Minha mente começa a ter espasmos, memorias antigas começam a vir a
tona, da época em que a conheci. Mas, aos poucos, vou saindo deste
entorpecimento e voltando a mim mesmo.
7
segundos. Subo e desço junto com minha respiração. Deus, onde você está agora?
Onde ela está agora? Acastelada ou correndo por verdes campos?
6
segundos. Posso ver o inimigo. Eles não vem ao nosso encontro, malditos covardes!
Suas lanças não irão nos deter!
5
segundos. Perco o foco outra vez e vejo alguns companheiros me ultrapassando.
As árvores e as nuvens se misturam e
4
segundos. o sol esconde-se por detrás das nuvens. O vento é forte o suficiente
para me forçar a
3
segundos. fechar os olhos e enfim
2
segundos. descubro a origem de meu sofrer.
1
segundo. Foi não ter recebido um sorriso dela e nesse instante meu cavalo
encontra a lança inimiga mas por sorte consigo soltar os pés do estribo e caio
rolando. Os trombones e tambores já não podem ser ouvidos. E ainda no chão
tentam golpear-me, mas rolo para o lado e ainda deitado consigo puxar um de
meus adversários para o solo, furar seus olhos com as mãos e erguer-me de
encontro às costas de um outro, puxo minha espada e a faço cortar três vezes, e
três cabeças rolam à minha volta, enquanto ao meu lado alguém avança com uma
lança, como se fosse um pobre louco, pois ninguém usa lança em um aglomero de
batalha, então minha espada poupa tal alma de continuar sendo estupida. Alguém
me acerta na coxa, e meu grito é acompanhado por um braço que cai. Um cotovelo
me acerta a boca e, tonto, caio. Consigo me manter de joelhos mas o mundo
parece girar.
Ouço
gritos de guerra, gritos de dor, tambores, metal chocando-se, carne sendo
cortada, o vento nas árvores e uma tempestade que se forma, tudo ao mesmo
tempo, como se fossem uma sinfonia ímpia, de morte e mau agouro. Me sinto
desnorteado, e por um momento sinto uma lâmina passar por meu peito, como se
fosse o olhar de tristeza que ela me deu. Deve ser impressão minha. Isso não é
sangue, é suor, sim, suor apenas.
Mas o rosto dela me vem à cabeça e não consigo
segurar as lágrimas. Começo a sentir-me fraco. Não, não era uma espada, era?
Acho que era. E acho que isto é sangue. Danem-se a guerra e o rei, as terras e
o ideal, pois nada disso faz sentido agora. Aqui morrerei por glória,
procurando por amor.* Conto inspirado pela música "The Wicked Symphony", da banda Avnatasia.
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