28.8.12

Sem tempo pra ler


            Henrique orgulhava-se de sua coleção: três prateleiras cheias de livros de vários temas. A maioria era de literatura, mas tinha muitos de historia e mais alguns quadrinhos. Porém, o que Henrique não tinha era tempo para ler.
            Ele e Marcela ainda não tinham conseguido comprar um carro, e por isso pegavam ônibus para ir aos seus respectivos trabalhos. O ônibus de Henrique quase sempre estava cheio, e por isso era difícil conseguir sentar. Quando conseguia, logo abria o livro da vez. Já tentou ler em pé, mas com livros grandes era uma difícil tarefa, sem contar que o livro poderia cair no chão e amassar, como acontecera tantas vezes.
            Em casa também era difícil ter tempo para ler. O local mais propicio era o banheiro, mas não podia ficar tanto tempo lá. Marcela chegava mais cedo que ele do trabalho, e até umas dez horas da noite fazia costuras para arrecadar uma grana extra para o casal. Henrique chegava lá pelas oito e fazia comida para os dois. À noite, sentia-se tão cansado que lia meia página e já caía no sono. E nas noites em que estavam mais bem dispostos, o casal aproveitava para namorar. Ele chegava a sonhar que estava sentado em um belo parque lendo seus tão amados livros, e acordava mal humorado quando percebia que foi tudo ilusão.
            Henrique estava num ponto crítico: ou mudava de vida e vivia de verdade, ou continuava com sua não-vida. Resolveu virar tudo de pernas pro ar. “De que adianta ter tantos livros e não poder ler? Minha vida vai mudar, e se não for por bem, vai ser por mal!”
            No dia seguinte, foi até o banco e esperou na fila. Lá dentro, pegou uma senha e esperou ser chamado. Não sentia-se nervoso, apenas ansioso. Quando chegou sua vez, inventou que queria abrir uma conta. Lorota pra cá, lorota pra lá, deixou seu celular cair para o lado da gerente. “Eu pego pro senhor”. Quando a mulher se abaixou, Henrique puxou uma caneta esferográfica de seu bolso, saltou por sobre a mesa e rendeu a moça, pressionando a caneta contra o pescoço da mesma. Os seguranças puxaram suas pistolas, mas o rapaz se enfiou em um canto, protegendo as costas e mantendo uma boa visão geral. “Calma moço, não me machuca! Você quer dinheiro? Eu te dou dinheiro, e pago um advogado pra te defender, mas não me mata!” dizia a moça, chorando.
            Henrique não falou nada e apenas esperou. Quando o negociador chegou, Henrique fez sua exigência e soltou a mulher, sendo preso em seguida.
            Na cadeia, Henrique agora era um homem feliz. Sua exigência fora cumprida e seus livros foram levados para a prisão, onde agora ele tinha todo o tempo apenas para ler.

Um comentário:

  1. AUSHDAUSDH =D

    Achei um barato ele querer ser preso para ler. Muito divertido.

    Parabéns Paim *-*

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