Balneário Barra do Sul tem algumas
lendas interessantes, muitas delas vindas desde o tempo da colonização
açoriana. Uma que sempre aparece nos trabalhos escolares sobre folclore é a do
Seco do Caitê.
A versão mais corrente é: existia um senhor
de escravos que vivia na região. Muito ruim, dava apenas um camarão por dia
para seus escravos, e os castigava costumeiramente. Não tinha filhos e nem
família. Seus escravos morriam de fome e o homem apenas comprava outros. Quando
o senhor de escravos morreu, seu corpo foi enterrado dentro de sua propriedade,
e os escravos foram tomados pelo governo.
Porém, seu corpo estava tão impregnado pela
maldade e podridão de sua alma que a natureza rejeitou-o, e revolvendo-se,
tornou a colocar o corpo do terrível homem para fora da terra, deixando-o
apodrecer ao ar livre, permitindo que os animais o devorassem e que sofresse as
intempéries do clima.
Não alcançando o mundo espiritual, a alma do
homem passa a habitar o esqueleto maldito, buscando uma forma de encontrar o
descanso eterno até o dia do juízo.
Muitas pessoas tratam as lendas apenas como
lendas. Mas não os pescadores, pelo menos não os mais velhos e nem os mais
espertos. Respeitam a lenda do corpo seco e evitam se aproximar da área. Muitas
pessoas diziam ter visto o Seco do Caitê, e ignorar isso seria no mínimo, uma
irresponsabilidade.
Certo dia, um pescador chamado Deco precisou
pescar sozinho. Seu colega cortou o pé em uma ostra e acabou ficando em casa.
Deco veio de fora, e nunca deu bola para as lendas locais. Pode parecer clichê
o fato de nosso personagem não ligar para o que estava à sua espreita,
observando-o em meio ao matagal, mas querendo ou não, é comum que pessoas de
cidades maiores tenham tendência a pensar no sobrenatural como se nada daquilo
existisse. O mato chacoalhando era apenas por conta do vento, os movimentos
bruscos deveriam ser de pacas, e o som de coisas batendo deveria ser um tipo de
coachar, ou qualquer coisa assim. Deco jogou sua tarrafa varias vezes, e lá
pelas três da manha, só tinha pego um peixe. Como ninguém ia pescar no Caitê
durante a noite, Deco achou que pegaria muitos peixes, mas se enganou.
Resolveu parar para descansar. Encostou sua
bateira em uma pequena praia e sentou-se na areia. O lugar era no meio do
mangue, e ao redor se estendiam alguns quilômetros de mata, mais
especificamente, de manguezal. Deco continuou ouvindo os sons estranhos sem dar
muita atenção. Até que o barulho começou a aumentar e ele resolveu olhar para
trás.
De dentro do mato, a encarnação da morte
arrastava-se à passos lentos. O esqueleto caminhava vagarosamente, os ossos
atritando e criando o ruído que Deco vinha ouvindo. Amarelado e trincado, a
criatura caminhava passo a passo, tentando equilibrar-se e movendo a mandíbula
vagarosamente. Sabe-se lá que maldições estaria proferindo se tivesse cordas
vocais. O homem ficou paralisado. Seu reto relaxou e ele defecou nas calças. Os
pelos de seu braço se eriçaram e sua garganta tentou em vão emitir algum grito.
Suas pernas foram enfraquecendo até que Deco desmaiou.
Quando era manhã, Deco acordou e se viu na
mesma praia em que tinha atracado. Ficou sentado por um bom tempo, observando a
água, até que resolveu voltar pra casa. Tão acostumado a fazer isso todas as
manhas, Deco demorou para perceber que seus pés estavam diferentes. Eram apenas
ossos. Olhou para as mãos e nada além de ossos moviam-se diante de seus olhos.
Deco teria dado um grito, mas som algum saiu de sua boca. Ele se olhou no
reflexo da água e viu apenas uma caveira, e seu corpo era um amontoado de ossos
ensanguentados e alguns restos de pele e nervos. Ele moveu-se numa espécie de
corrida de um lado para outro, e se tivesse sistema nervoso, teria enlouquecido.
Parou de repente ao avistar um rastro de sangue, e resolveu segui-lo mata
adentro. Caminhou por algum tempo até chegar em uma cova improvisada. A terra
estava cobrindo parcialmente um corpo enterrado. Deco tirou a terra com as
próprias mãos e então compreendeu o que estava acontecendo.
Muito bom, foi você que fez ou é uma lenda mesmo?
ResponderExcluirÉ uma lenda da minha cidadae, eu só adaptei
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