Thiago terminou de ler
sua revista em quadrinhos e guardou na mochila. Já tinha começado a ler na
noite anterior e quase a terminou, mas como já estava tarde, resolveu dormir e
termina-la no dia seguinte. Chegou no terminal, subiu no ônibus e enquanto
esperava dar o horário, terminou a leitura.
Ele gostava das
coincidências. Quando terminou de fechar o zíper da mochila, o ônibus ligou. No
mesmo instante. Esse tipo de coisas arrancava sorrisos de Thiago. Quando o ônibus
ameaçou sair, uma garota apareceu correndo e se jogou porta à dentro. Fez uma
aterrissagem que se dividia entre desastrada e triunfal, o suficiente para
encher os olhos de Thiago. Ele ficou olhando bestificado para aquela entidade
ruiva que surgiu na sua frente de modo tão surpreendente, imaginando mil
possibilidades de futuro. Esse tipo de coisas também arrancava sorrisos de
Thiago.
Passados alguns
milésimos de segundo após sua entrada no ônibus, a garota respirou fundo três
vezes, caminhou e se sentou ao lado de Thiago. O perfume da garota misturado ao
cheiro da pele, que subia por causa do leve suor que ela produziu em sua breve
corrida, foi o suficiente para fazer Thiago parecer-se com um tomate maduro.
Ele não podia deixar
ela perceber o que sentia, era logico. Continuou com sua expressão de parede,
fitando o lado de fora enquanto o ônibus avançava. Thiago pensou em alguma
forma de puxar assunto, mas não encontrou. Tinha que ser rápido, afinal o
ônibus logo chegaria a área comercial, onde provavelmente ela desceria. Pensou
em falar sobre o tempo, mas resolveu que seria melhor dar um tiro na própria
cabeça do que iniciar uma conversa assim. Thiago estava começando a sentir
calafrios de nervosismo. O ônibus ia rápido, e ele não sabia quando iria
encontrar a garota outra vez. Foi quando Deus, algum anjo, o destino ou quem
quer que seja se compadeceu dele e lhe deu a oportunidade que esperava. Com
movimentos de corça, a garota retirou da bolsa um mangá, que, coincidentemente,
ele lia em versão virtual.
Thiago estava mais confiante
agora. Deixou ela ler algumas paginas e espiou para ver em que parte ela
estava.
- É triste quando ele
morre – Disse Thiago, esperando uma feição de espanto ou raiva por causa do
spoiler. Ele saberia lidar com qualquer uma das situações.
Nada.
A garota não desgrudou
os olhos dos quadrinhos.
Ele suou gelado e
pensou em alguma outra coisa.
- Eu até gostaria de
comprar, mas já coleciono outras duas series, dai ficaria muito caro.
A garota leu mais um
pouco, olhou pra ele rapidamente, e voltou os olhos para o mangá.
Deu um pequeno sorriso,
mas provavelmente por causa da historia. Abriu a bolsa, guardou o mangá e se
levantou. Puxou a cordinha, esperou e desceu no próximo ponto. Thiago ainda
iria mais três pontos à frente. Ficou arrasado, pensando se era tão feio assim
ou se sua abordagem fora muito incisiva. Ficaria o dia inteiro se remoendo.
Alice caminhou alguns
passos, revirou a bolsa e tirou um par de aparelhos de surdez lá de dentro. “O ônibus é
muito barulhento, não consigo ler”, pensou ela. Encaixou os aparelhos nas
orelhas e seguiu para o trabalho.
Rs... incrível como as coisas acontecem.
ResponderExcluirEu gosto quando adivinho o fim da história na primeira pista ^^
ResponderExcluirPor isso saio sempre de casa com meu dicionário de libras rs
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