- Peguem esse maldito! Se ele escapar eu vou passar uma
noite com a mulher de cada um de vocês! Desgraçado!
Os homens estavam vasculhando a mata insistentemente, mas
nem sinal de Manolino.
A confusão havia começado no fim da tarde. Tres escravos
iriam ser açoitados por roubarem comida do armazém. Quando o capanga do Nhô Berto não apareceu, os outros jagunços ficaram preocupados. Acharam-no jogado atrás da
senzala, morto. Garganta roxa, sangue pingando
(ploc, ploc)
dos ouvidos e nariz. Os olhos levemente saltados.
Logo gritos encheram o ar:
“Capoeira!! Capoeira!!”
Os negros foram colocados na senzala, eufóricos, felizes.
Todo ato de rebeldia que acontecia era um milagre, milagre senhor Jesus,
milagre!
O capitão do mato guiava os homens em sua caçada. Na
floresta, gritos e sons abafados de golpes eram ouvidos a cada minuto. Juscelio
da Mata, o capitão, era esperto. Já fora quilombola, mas preferiu uma vida mais
facil. Entendia o pensamento dos fugitivos, sabia qual era sua lógica. Também
era um capoeira.
Numa clareira, ele o encontrou. Manolino se punha entre ele
e a relva. Atrás dele, a lua cheia coloria o céu com prata. O branco de seus
olhos e dentes contrastavam com a treva noturna. Juscelio sentiu um arrepio nas
costas, os testiculos entrando em seu corpo, e fez força para não urinar nas
calças.
- Acabou, preto sem vergonha. Vem comigo agora que da pra
diminuir o castigo.
Manolino começou a andar vagarosamente. Ele tinha uma pedra
na mão.
- Só acaba quando eu quiser, traíra.
Arremessou o projétil na cabeça de Juscélio, que desviou o
rosto e rapidamente disparou sua espingarda, atingindo apenas a escuridão da
mata.
Teve só um segundo para sentir pavor, e quando percebeu,
Manolino já estava projetando seu corpo no ar de uma forma impossível. Seu
calcanhar atingiu em cheio o pescoço de Juscélio, que caiu quase morto.
Traqueia esmagada, sufocando. Podia sentir o sangue pingar
(ploc, ploc)
no céu de sua boca.
No dia seguinte, os jornais estampavam na capa:
“Vinte e cinco homens do Coronel Norberto Mendoça mortos pelo
bandido Pés do Diabo”
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