Voltei a jogar um multiplayer
online, (que não vou dizer qual é pra não me incomodar com direitos autorais) que
vinha jogando desde meus 14 anos, com algumas pausas e interrupções. Sempre
rendeu boas horas de diversão, e agora, minha companhia pra jogar é nada mais
nada menos que minha futura esposa. Como moramos longe um do outro, é uma forma
que temos de ficarmos “juntos”.
Na época de adolescente, eu não
tinha dinheiro pra poder jogar no servidor oficial, então, a minha saída e dos
meus amigos foi partir para os servidores piratas. Esses servidores tem várias
diferenças para com o oficial. Nos piratas, você consegue evoluir numa
velocidade muito acima do normal, pode alcançar níveis mais altos, ir de uma
cidade para outra apenas digitando comandos e os itens são muito mais fáceis de
conseguir, além de não precisar fazer teste nenhum para mudar de classe.
Já o servidor original é
exatamente ao contrário. Para ir de uma cidade à outra ou você paga
caro por um teleporte (apenas cidades importantes), vai
de dirigível ou andando, e isso demora. A evolução é normal, ou seja,
lenta e por vezes desgastante. Os itens não caem facilmente e testes são
requeridos pra mudar de classe.
Mas foi essa diferença que me fez
pensar neste texto que você está lendo agora. Nos servidores piratas,
onde as coisas vinham muito fácil, a diversão se tornava muito restrita aos
combates. O primeiro servidor que eu e meus amigos jogamos era quase igual ao
oficial. Nele foi onde vivemos coisas que conseguimos lembrar até hoje. Nos
outros, ficávamos jogando por uns 2 ou 3 meses e depois cansávamos. O desafio
da coisa tinha se extinguido. Agora jogando no servidor oficial (que ficou
gratuito), a diversão e os desafios estão de volta, e as dificuldades são a
motivação.
Aonde quero chegar? Na vida.
Nossa vida está se tornando um
servidor pirata.
Temos à nossa disposição tudo o
que o dinheiro puder comprar, e estamos nos tornando enfadonhos, entediados,
desmotivados, vulgares. Ninguém vai contar aos filhos que "aquele banco
que o seu tio está sentado fui eu e seu avô quem fizemos". Ninguém vai
dizer "só dei o primeiro beijo na minha esposa depois de um mês de
encontros". Nossa geração está fatigada. Nós não fazemos mais nada. Não
construímos móveis, não cozinhamos, não lemos, não pintamos, não andamos no
pasto e não subimos em árvores. Até o sexo está se tornando, aliás, já se
tornou um passatempo, um produto, algo que se deve fazer porque se deve fazer.
Programas fúteis na TV, músicas sem melodia e livros que ensinam a fazer
amigos. Céus! Isso é o cúmulo! Você gastar dinheiro pra poder fazer amigos!
Estamos nos tornando máquinas.
Escravos do relógio. Queremos tudo pra ontem, e ninguém mais se dá ao luxo de
perder um pouco de tempo. Trocar uma balada por um lual à beira-mar? Raro.
Raríssimo.
"Compremos flores de
plástico, assim , não perderemos tempo pra regar". Estamos
valorizando a forma da flor, e desprezando seu perfume. Estamos fazendo mil
coisas ao mesmo tempo, mas não sabemos o porque.
Espero que um dia eu possa sentar
com meu filho na beira da praia, tomar um sorvete e juntar conchas, e
dizer pra ele as coisas que fazíamos antes da humanidade ser escravizada
pelo computador, e contar como era lindo o que tínhamos, mas não podíamos
perder tempo com aquilo, e como aquilo foi perdido com o tempo.
Arrasou no texto!
ResponderExcluirOuço histórias de como foi a infância da minha avó ou até mesmo a de meu pai, e juro, como eu gostaria de voltar ao tempo. Os valores morais de antes não existem mais. Precisamos dar valor as pequenas coisas que nos cercam, as quais muitas vezes passam despercebidas.
A 'evolução' que o mundo está alcançando hoje em dia está fazendo com que os valores de hoje sejam fúteis e banais... até hoje lembro como foi complicado conseguir a primeira garota para beijar e hoje com 2 minutos de conversa é muito fácil chegar a 'uma base avançada' (e olha que eu não sou tão velho assim). Não entendo como conseguimos trocar os valores das coisas, em vez de valorizar estamos desvalorizando? Ou seja nossa evolução está se tornando uma involução? Diz pra mim Paim onde vamos chegar nesta droga...
ResponderExcluirVamos chegar em um ponto em que ou a gente resgata o que tinha de bom antigamente e refaz a coisa toda, ou a gente espera degringolar de vez...
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